quarta-feira, 19 de julho de 2017

Sou mais forte não comendo - anorexia masculina

Estudos sobre imagem corporal e transtornos alimentares sempre focaram mais em mulheres do que homens, mas homens também podem sofrer com estes assuntos. Entre 5% e 10% das pessoas que sofrem de anorexia e/ou bulimia são homens, mas estudos recentes acreditam que o número pode ser bem maior. Isso porque é comum haverem diferenças entre a anorexia masculina e os critérios geralmente usados para diagnosticar a doença. Além disso, tratamentos usados com mulheres anoréxicas não são tão eficazes com homens anoréxicos (Drummond, 2002).

Homens parecem ter a propensão em ver o próprio corpo como uma espécie de máquina, isso faz com que sua satisfação corporal esteja mais relacionada com o que um homem consegue fazer do que com sua aparência. Talvez, por essa razão, homens anoréxicos sentem uma espécie de orgulho em serem capazes de resistir a longos períodos sem comer (ou alguns tipos específicos de comida), se vendo, portanto, como mais forte que os outros (força de vontade). Outras características são: uma espécie de medo por sentir que possui gordura no corpo e por alimentos gordurosos; diferente das mulheres, homens evitam fazer dietas e emagrecem abusando de atividades físicas; e, quando em grupo, podem competir para ver quem é o mais doente. (Drummond, 2002, 2010)

Sinais de que um homem sofre de anorexia incluem: perda de peso muito rápida, subnutrição (baixo Índice de Massa Corporal - IMC), doenças envolvendo o aparelho reprodutor e fragilidade estrutural inexplicada. Pessoas que sofrem de transtornos psiquiátricos ou usam drogas são mais propensas a desenvolverem anorexia. (Skolnick, Schulman, Galindo, Mechanick, 2016). Se você sofre ou suspeita que algum conhecido sofra, é importante buscar ajuda especializada.
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Obra citada não disponível online
Drummond, M. (2010). Men's bodies throughout the life span. Em C. Blazina & D. S. Shen-Miller (eds.), An international psychology of men (pp. 159-188). New York: Routledge.

sábado, 8 de julho de 2017

Quantos psicólogos de homem você conhece?

Como toda criança, eu gostava de aprender. Aprender te dá um poder enorme, te permite mudar o ambiente a sua volta. Mas muito mais que poder, aprender te faz perceber que nada é por acaso, as coisas têm um motivo para serem como são, que tudo está conectado e que sempre há algo mais para aprender. Como diz a lore da carta Omniscience Dragon, Managarmr: "É porque eu tudo sei que quero saber ainda mais".

Desde muito cedo, desejo ser um cientista. Não tinha me imaginado um cientista psicológico antes da faculdade, mas sempre um cientista. Perceber que tudo possui uma lógica, mesmo quando parece acidental ou prejudicial, me fez querer aprender mais pelo simples prazer de entender as coisas do que para mudá-las. Vejo pessoas que dizem estudar algo para mudar esse algo, mas isso para mim é inconcebível. Como posso querer mudar algo que eu ainda não entendo?

Por outro lado, como acredito acontecer com a maioria das pessoas, as diferenças entre homens e mulheres sempre me despertou curiosidade. As diferenças entre os sexos são difíceis de ignorar. Mesmo pessoas que não estão de acordo com o imaginário social de como deve ser um homem ou uma mulher, geralmente, são mais parecidos com o próprio sexo do que com o oposto, o que, como consequência, faz com que prefiramos a companhia de nosso próprio sexo ao do outro, o que não significa de forma alguma rejeitarmos ou odiarmos o outro sexo.

Mas só comecei a pensar realmente em estudar tais diferenças quando, em 2013, descobri que, nas bibliotecas, há uma parte dedicada apenas para estudos sobre homens e outra só para as mulheres e, enquanto os livros sobre mulheres geralmente ocupam uma prateleira inteira ou mais, os livros sobre homens mal chegam nos dois dígitos.

Lendo os livros que encontrava, não apenas me conheci melhor, mas entendi que há razões para homens e mulheres serem diferentes que vão além da questão testosterona x estrogênio e mudei minha opinião sobre muitos assuntos, como a falsa crença de que mulheres são mais atenciosas com crianças que homens. Passei a prestar mais atenção nos outros, procurar grupos que discutem sobre a condição dos homens e procurar pesquisadores e estudos que consideram as diferenças de gênero.

Hoje, fazem quase quatro anos que iniciei minha jornada, que li, observei homens nas ruas, participei de grupos. me formei, mas continuo buscando aperfeiçoamento, tanto que me tornei revisor da revista científica Psychology of men and masculinity.

Porém, infelizmente, a Psicologia brasileira ainda está muito atrasada no atendimento especializado a homens e o único espaço em que homens parecem ter para serem ouvidos são as rodas de amigos íntimos e a internet. Eles não têm meios de conhecer pessoas novas com experiências semelhantes, não têm espaços para trocar ideias, nem profissionais especializados em escutá-los e entender suas reais necessidades.

Pensando nessa falta de profissionais dedicados a levar atendimento de qualidade a homens, pensei em seguir esse mesmo rumo. Sei que haverá muitas dificuldades, que não há profissionais no Brasil que possam me orientar, mas mesmo formado, não parei de buscar informações, de me atualizar e, com tempo e experiência, sei que ser um dos pioneiros nessa área será muito recompensadora para mim, para os homens e para seus entes queridos.

É por essa razão que criei esse blog e peço que comentem com suas opiniões e experiências e, quem gostar, que acompanhe meu trabalho, cadastrando-se.

a falácia do "machismo" - por que nem tudo pode ser culpa do homem

Ser homem não é um mar de rosas como algumas pessoas parecem acreditar. Embora possa ser verdade que homens tenham "privilégios" em algumas áreas, estão em sérias desvantagens em muitas outras, como expus aqui. Durante alguns anos, isso foi um problema para o Feminismo, até que fizeram uma incrível descoberta: O machismo também é prejudicial aos homens e é ele o culpado por todos os problemas que expus.

Entretanto, não posso aceitar que o machismo seja prejudicial aos homens e responsável pelos situações em que parece que o sexo "privilegiado" é o feminino. Antes que me critiquem e xinguem, peço que leiam todos os meus argumentos (e, se não concordarem, refutem meus argumentos, não meu sexo, idade, experiências pessoais ou outra coisa irrelevante).

Robert Cialdini (2006) fala de um estudo em que foi analisado a resposta das pessoas a um pedido para furar a fila para usar uma copiadora (xerox). No primeiro teste, o furador de filas perguntou a quem estava a sua frente "Desculpa, tenho cinco páginas. Posso usar a máquina de xerox?" e 60% das pessoas o deixaram passar na frente. Quando repetiram o experimento, mudando a pergunta para "Desculpa, tenho cinco páginas. Posso usar a máquina de xerox porque tenho que fazer cópias", 93% das pessoas o deixaram passar na frente.

Esse aumento não faz sentido já que, supostamente, todos os que já estavam na fila queriam tirar cópias, mas elas deixaram apenas porque ele deu uma justificativa. Nós, humanos, gostamos de explicações, mesmo que elas não façam sentido, e somos mais propensos a aceitar aquilo que nos é explicado. Na minha opinião, é isso que acontece com a resposta "é culpa do machismo", pelos seguintes motivos:

 1) O que é machismo? Originalmente, era usado em países de língua espanhola e portuguesa para se referir a um ideal que todo homem deveria buscar, ser um homem corajoso, forte, protetor, provedor, inteligente e com capacidade de liderança. Hoje, é frequente ouvirmos que "machismo é a crença de que homens são superiores às mulheres" e há quem parece chamar qualquer observação sobre diferenças de gênero de machismo (especialmente, seguidores de Judith Butler). Se nem mesmo o movimento feminista possui uma definição clara sobre o significado dessa palavra e, se eu não consigo explicar um termo, como posso acusá-lo de ser causa de algo? Etimologicamente, machismo significa "ideologia masculina; forma de pensar do homem" (macho+ismo). Logo, ao dizer que o machismo é ruim e precisa ser combatido, eu estou defendendo que existe um jeito de pensar masculino e outro feminino, que um é certo e o outro errado. Isso não é equidade, é discriminação. E antes que digam que "machismo é usado para dar visibilidade à opressão contra a mulher", por que não chamamos o racismo de "europismo", ou a homofobia de "heterossexismo"?

2) Como acontece com a maioria dos -ismos (e, agora, com as -fobias), machismo é apenas um nome dado para um conjunto de comportamentos e crenças, logo não pode ser causa de si mesmo. Dizer que alguém foi discriminado porque existe discriminação é, no mínimo, redundante. Há duas semanas, saiu uma reportagem de um homem, Alfredo Tucumán, que morreu agredido pela esposa (leia assassinado e vítima de violência doméstica/conjugal/na intimidade). Ele chegou a avisar a polícia, que fez pouco caso, e teve quem acusou o machismo de ser o responsável. Mas como dizer que "a crença de que homens são mais fortes que mulheres e, portanto, não podem apanhar delas" pode ser causa de os policiais acharem que um homem deveria ser capaz de se defender de uma mulher?
3) Se o machismo privilegia o homem e oprime a mulher, a situação do homem deveria ser sempre melhor que da mulher. No mesmo caso do homem assassinado pela esposa, se o machismo fosse tão tendencioso a sempre dar razão para o homem, a palavra dele deveria ser suficiente para encarcerar a mulher e não o foi. Connell (2005) "resolve" o problema de como o "privilégio pode ser prejudicial" dizendo que os problemas masculinos são o preço que homens tiveram que pagar por serem privilegiados. Entretanto, desde quando privilégios têm lados negativos? Qual foi o preço que os europeus pagaram quando escravizaram os africanos? Os nazistas eram mais de 90% da população carcerária quando perseguiam os judeus? Além disso, esse argumento não é aplicável à "opressão às mulheres"? Eu poderia perfeitamente dizer que a dependência econômica das mulheres, no passado, era o preço que elas deveriam pagar pelo privilégio de serem sustentadas financeiramente.

4) Apenas para enfatizar algo que já disse, mas pode ter passado batido por não estar em foco, todos os -ismos e -fobias tendem a ter um mesmo problema: por serem apenas nomes, nenhum deles aumenta minha compreensão do fenômeno, logo não me permitem pensar em intervenções eficientes. Troque "machismo" por "homofobia", "racismo" ou "capitalismo" e o sentido da frase não muda, só muda o nome do grupo que eu estou responsabilizando.
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Obras citadas

Cialdini, R. (2006). Influence: the psychology of persuasion (revised ed.). [S.l.]: Harper Business.
Connell, R. W. (2005). Masculinities (2nd ed.). Los Angeles: University of California Press

sábado, 24 de junho de 2017

Homens são esquecidos na gravidez e parto

A gestação costuma ser descrita pelos homens como um período tranquilo, em que sua única tarefa é oferecer apoio à mulher. Entretanto, como precisa que a mulher seja uma mediadora entre ele e o bebê, o homem pode ter dificuldade em perceber o bebê como real e de se sentir pai (Johansson et al., 2015).
Estudos em fisiologia indicam que os homens sofrem variações hormonais semelhantes às sofridas pelas mulheres quando estão próximos a uma criança, ou quando acreditam estar próximos a uma criança (Nunes-Costa et al., 2014). Além disso, é comum que, durante a gestação e parto, os homens sintam medo, ansiedade, pânico, impotência, felicidade, curiosidade, orgulho e sensação de estar enlouquecendo (ver por exemplo: Johansson et al., 2015; Oliveira; Silva, 2012).
Um estudo nos Estados Unidos encontrou que homens que não irão morar com seus futuros bebês apresentam mais sintomas depressivos no final da gestação. Após o nascimento, os sintomas depressivos costumam diminuir, enquanto o oposto acontece com os pais que irão morar com o bebê. Nesse caso, sintomas depressivos tendem a aumentar durante os primeiros cinco anos de vida do bebê. (Garfield et al., 2014).
Recentemente, pesquisadores de vários países pedem que se deixe o homem ficar junto da mulher durante todas as etapas do trabalho de parto e parto, pois isso melhora o relacionamento conjugal, a relação entre o homem e o bebê, diminui a necessidade de analgésicos, sedativos e diminui as chances da mulher ter alguma complicação durante o parto. (ver, por exemplo, Espírito Santo; Bonilha, 2000; Perdomini; Bonilha, 2011).
No Brasil, entrou em vigor a lei 11.108 no ano de 2005, conhecida como lei do acompanhante, que deveria garantir que, durante todas as etapas do trabalho de parto e parto, a mulher terá um acompanhante de sua escolha. Entretanto, há indícios de que isso ainda não ocorre (ver, por exemplo, Oliveira; Silva, 2012).
Não consegui encontrar dados oficiais, mas, segundo o estudo de Diniz et al. (2014), entre Fevereiro de 2011 e Outubro de 2012, quase 25% das mulheres ficaram sem acompanhante o tempo inteiro. Das que tiveram acompanhante, mais da metade tiveram só por um tempo e, em menos da metade dos casos, esse companheiro era o pai da criança.
Além disso, a maioria dos homens concorda que o pré-natal deva focar na mulher, mas reclamam que não sabem o que fazer com a informação recebido, isso quando não entram na sala de parto sem nenhuma informação. Dessa forma, continuam excluídos mesmo quando estão presentes (ver, por exemplo, Fenwick et al., 2011Oliveira; Silva, 2012).

Por fim, devemos garantir que a paternidade seja algo gratificante para os homens, não transformá-la numa obrigação que ele deve cumprir para provar algo a alguém, pois isso pode trazer mais sofrimento do que benefícios. (Osherson, 1992; Piccinini et al., 2004)

E você, passou ou conhece alguém que passou por algo assim? Conhece alguém que foi diferente? Conte-nos sua experiência.

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Obra citada não disponível on-line
Osherson, S. Os homens e o amor. São Paulo: Círculo do livro, 1992

sábado, 10 de junho de 2017

Síndrome de couvade - gravidez masculina

A Síndrome de couvade ("chocar" em francês) é quando um homem apresenta sintomas físicos ou emocionais enquanto sua companheira está grávida. Isso foi muito estudado durante os anos 80, no exterior, e, desde então, foi praticamente esquecida pelos cientistas.
O único trabalho brasileiro que já encontrei, até hoje, é o de Martini e colaboradores (2010) e, como eles demonstram, cada pesquisador usa critérios diferentes para dizer se um homem apresenta um quadro de Síndrome de couvade ou não, o que torna difícil falar alguma coisa sobre a Síndrome. O que parece estar de comum acordo é que os sintomas devem desaparecer com o nascimento do bebê, ou pouco antes, e não afetam a saúde do homem a ponto de precisar de tratamento.
Acredita-se que entre 11% e 97% dos homens, durante a gestação de suas companheiras, têm sintomas relacionados à gravidez. Os sintomas citados com mais frequência são vômito, perda de apetite, dores nas costas, nos dentes ou de cabeça. Alguns pesquisadores também incluem vontade de comer determinados alimentos (desejo de grávida), azia, dor de barriga, dificuldade de respirar, depressão (tristeza permanente), dificuldade para dormir, irritação fácil e gagueira.

Existem 3 (três) teorias de por que alguns homens têm esses sintomas durante a gravidez da companheira:

  • Teoria psicossocial: Tornar-se pai é um processo difícil que envolve muitas mudanças, inclusive na forma como o homem vê a si mesmo. Há sociedades que, para ajudar o homem a passar por essa mudança, realizam rituais de passagem. Por meio desses rituais, o homem estará preparado para ser pai e será visto oficialmente por toda a sociedade como capaz. A sociedade ocidental não prepara o homem para ser pai e geralmente vê a paternidade como tendo pouca importância. Sem a ajuda da sociedade, a mente faz o homem se sentir preparado criando a ilusão de que é ele quem está grávido;
  • Estudos sobre a parentalidade: Para essa teoria, a existência dos sintomas está relacionada com o desejo do homem de ser pai. Quando um homem está realmente envolvido na criação da criança e deseja ter um papel ativo na criação dela, o vínculo que o pai estabelece com o feto e seu "bebê imaginário" são tão fortes que provocariam uma gravidez psicológica;
  • Psicanalítica: Até, mais ou menos os 5 (cinco) anos de idade, as crianças acreditam que podemos mudar de sexo naturalmente. Assim, meninos acreditam que poderão engravidar e amamentar um dia. Quando percebemos que o sexo é algo fixo, o desejo de engravidar seria "abandonado", mas, quando a mulher engravida, o desejo volta na forma de inveja da mulher, geralmente, sem que o homem perceba que tem inveja. Para "competir" com a mulher e realizar seu desejo de engravidar, a mente do homem copia os sintomas da mulher e faz com que o homem também sinta.
Para você, qual das três faz mais sentido? Você tem alguma outra teoria? Então conte-nos nos comentários. Lembre-se de me seguir aqui, no Youtube, no Facebook, Twitter,  Google + e no LinkedIn

sábado, 27 de maio de 2017

Depressão pós-parto paterna

Poucas pessoas sabem o que é Depressão pós-parto (DPP), menos ainda que homens também podem ter DPP. Os primeiros estudos sobre a DPP paterna só surgiram há pouco mais de 10 anos, quase exclusivamente no norte da Europa. Indo direto ao ponto, a DPP consiste em um tipo de Depressão (tristeza doentia) que surge até um ano após o nascimento de uma criança.

Já na gestação e, principalmente, nos primeiros meses de vida do bebê, tanto o homem quanto a mulher sofrem mudanças hormonais, sociais e na autoimagem, desorganizando a rotina e o bem-estar de ambos os genitores. Por exemplo, se você já teve filho, provavelmente ficou noites sem dormir direito, passou a brigar mais com a mãe da criança que antes do nascimento, ia trabalhar exausto e irritado. Porém, dificilmente teve a oportunidade de conversar sobre isso. (Almeida, 2007; Oliveira & Silva, 2011, 2012; Postpartum Men, 2017).

Não se sabe ao certo quantos homens sofrem de DPP, estima-se que entre 10 e 25% dos pais possuem os sintomas. Ou seja, a quantidade de pais que desenvolve DPP pode variar de um para cada dez pais a até um caso de DPP para cada quatro pais. O que parece certo é que há uma relação entre a DPP paterna e a materna, ou seja, se a mulher apresenta DPP, o homem, provavelmente, também terá, e vice-versa. (Lovizutto & Schiavo, 2014)

Alguns pesquisadores sugerem que homens tendem a apresentar sintomas diferentes que as mulheres quando acometidos de Depressão (ex.: Hart, 2001). Sendo assim, é importante prestar atenção em sintomas clássicos e os da chamada "Depressão mascarada":
Sintomas clássicos
  • Sentimentos de tristeza, culpa ou vergonha constantes;
  • Crença de se ser inadequado, incompetente, imprestável; 
  • Perda de apetite;
  • Insônia; 
  • Falta de desejo sexual
  • Inquietação; 
  • Falta de energia ou cansaço o tempo inteiro;
  • Dificuldades em criar uma ligação ou cuidar do bebê;
  • Falta de concentração ou dificuldade de tomar decisões;
  • Isolamento; 
  • Pensamentos que irá machucar o bebê;
  • Pensamentos recorrentes de se matar
Depressão mascarada (mais comum em homens)
  • Irritabilidade ou comportamento agressivo;
  • Uso excessivo de álcool e drogas;
  • Impulsividade (dificuldade de se controlar);
  • Comportamentos de risco (ex.: dirigir sem cuidado, sexo com muitas pessoas etc).
  • Dores físicas sem causa orgânica (ex.: dores de cabeça ou de estômago);
  • Vício por trabalho ou fazer esportes;

Os efeitos ainda são desconhecidos, mas sugere-se que prejudica as relações conjugais, podendo culminar em divórcio, e as habilidades sociais das crianças, principalmente meninos, isso é, as crianças tendem a apresentar dificuldades de relacionamento com os outros, como problemas de agressividade, baixa autoestima e isolamento, podendo desenvolver transtornos mentais; além, é claro, de todos os problemas decorrentes de outras formas de Depressão.

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Obras citadas
Almeida, M. B. V. B. de (2007). Paternidade e subjetividade masculina em transformação: crise, crescimento e individuação, uma abordagem junguiana. Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo. Recuperado em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-13082007-150555/pt-br.php

Lovizutto, M. das G. F. F., Schiavo, R. da A. (2014). O que sabemos sobre a Depressão Pós-parto paterna? Psicologado, recuperado em: https://psicologado.com/psicopatologia/transtornos-psiquicos/o-que-sabemos-sobre-a-depressao-pos-parto-paterna

Oliveira, A. G. de; & Silva, R. R. (2011). Pai contemporâneo: diálogos entre pesquisadores brasileiros no período de 1998 a 2008. Revista Psicologia Argumento, 29(66), 53-360. Recuperado em: http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/pa?dd1=5293&dd99=view&dd98=pb

Oliveira, A. G. de; & Silva, R. R. (2012). Parto também é assunto de homens: uma pesquisa clínico-qualitativa sobre a percepção dos pais acerca de suas reações psicológicas durante o parto. Interação em psicologia, 16(1), 113-123. Recuperado em http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=668938&indexSearch=ID.

Postpartum Men. (2017). Postpartum men: helping men beat the baby blues and overcome depression. Recuperado em http://postpartummen.com/

sábado, 13 de maio de 2017

Estudos de Paternidade - de onde viemos e para onde vamos?

Se você já procurou alguma coisa sobre desenvolvimento infantil, você provavelmente sabe da importância da mãe para que uma criança seja saudável. Entretanto, não deve ter visto nada sobre o pai. A Psicologia do Desenvolvimento Infantil tem contribuído para afastar o homem do convívio familiar, dizendo que o homem é incapaz de cuidar dos próprios filhos/as, e atribuindo à mulher toda a responsabilidade pela saúde da criança. Uma Psicologia que reduz o relacionamento pai-mãe-criança a uma "tríade de dois" (S. SILVA, 2004, p. 37), e que é
"Alienante e culpabilizante para as mulheres, o mito do instinto materno se revela devastador para as crianças, em particular para os meninos. Esta teoria postula que a mãe é a única capaz de cuidar do recém-nascido e da criança porque fica determinada biologicamente para isso. O par mãe/criança formaria uma unidade ideal que ninguém pode nem deve perturbar. Legitima-se a exclusão do pai, com isto reforça-se a simbiose mãe/filho. (p. 43-44)."
Quando a Psicologia fala da importância do pai, fala-se que, após uma certa idade, ele deve romper a simbiose mãe-bebê, simbiose que os próprios psicólogos alimentaram e o advertiram para proteger, pois rompê-la seria danoso à criança. Eu mesmo, quando preciso procurar fontes científicas sobre paternidade, tenho dificuldade de encontrar artigos bons e preciso recorrer a revistas de enfermagem, que fazem análises psicológicas muito melhores que trabalhos feitos por psicólogos.

Voltemos aos fatos, o pai só começa a ser tratado como importante a partir de 1976, quando Michael E. Lamb publica o livro The role of the father in child development (O papel do pai no desenvolvimento infantil). Porém estudos mais consistentes, explorando a qualidade da relação pai-criança só começaram a surgir na década de 90 (GOETZ; VIEIRA, 2013) e, no Brasil, a comunidade científica só começa a estudar com afinco após o ano de 2004, aproximadamente (OLIVEIRA; R. SILVA, 2011; VIEIRA et al., 2014).
O que precisamos ter em mente ao falar da paternidade? Tornar-se pai acarreta em mudanças na autoimagem, nas relações sociais e nos hábitos de saúde (MORAES et al., 2016), conta com mudanças hormonais para auxiliar na paternagem (NUNES-COSTA et al., 2014), muda em função da personalidade paterna, personalidade da criança, sexo da criança, qualidade da relação conjugal, nível de escolaridade, trabalho, motivação, autoconfiança, suporte social e idade, tanto do pai quanto da criança (LAMB, 1997).

Costumamos reclamar que homens ainda não dividem os cuidados em igualdade com as mulheres. Mas como conseguiremos dividir o tempo em duas metades perfeitamente iguais se, nos casos de divórcio, damos a guarda, quase sempre, só pra mãe (IBGE, 2014) e a duração máxima da licença-paternidade é de 20 dias (nos casos de empresa cidadã) e a duração mínima da licença-maternidade é de 120 dias (ou seja, a licença-maternidade é de 6 a 36 vezes maior que a licença-paternidade)?
Outra questão: por que o pai precisa cuidar da criança nas mesmas áreas em que a mulher é boa? A divisão de tarefas é ruim quando extremamente rígida, impedindo as pessoas de realizarem seus potenciais e de serem felizes, mas a divisão em si não é nem boa, nem má. Tomemos, por exemplo, o estudo de Goetz e Vieira (2013), que perguntou a crianças de 10 e 11 anos sobre como deveria ser um pai e uma mãe ideais e como eram seus pais e mães.

No geral, mulheres se saíram melhores que homens, não havendo grandes diferenças entre a mãe ideal e a mãe real, mas ainda aquém do desejado. Entretanto, as crianças disseram que um pai e/ou uma mãe ideal deveria brincar, em média, pouco mais de quatro vezes por semana com eles e as mães não chegam a brincar nem duas vezes, enquanto os pais brincam de três a quatro vezes por semana.
Esses resultados colaboram com os diversos estudos que apontam que homens brincam mais e tendem a construir o vínculo pai-bebê baseado no lúdico. Muitas pessoas desvalorizam essa atitude, achando que, ao fazer isso, o pai está se reduzindo a um mero recreador, mas brincar é de fundamental importância para a saúde mental e desenvolvimento cognitivo da criança. Qualquer bom professor ou terapeuta brincará com a criança para que ela aprenda e fique bem, por que não deixar o pai fazer o mesmo?

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Obras citadas não disponíveis on-line
GOETZ, E. R; VIEIRA, M. L. Pai real, pai ideal: o papel paterno no desenvolvimento infantil. 3ª ed. reimpr. Curitiba: Juruá, 2013.

LAMB, M. E. The role of the father in child development. New York: John Wiley & Sons, 1997.

MORAES, Y. L. de; ARGENTA, K. S. M.; REZENDE, M. M. A experiência da paternidade de pais de bebês: um estudo descritivo-exploratório. 2016. 278p. Relatório de iniciação científica (Iniciação Científica com bolsa UMESP na graduação em Psicologia) - Escola de ciências médicas e da saúde, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP. 2016.

SILVA, S. M. da. Exercícios da paternidade: estudo de dois casos clínicos. 2004. 162 p. Dissertação (pós-graduação em Psicologia da Saúde) – Faculdade de Saúde, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP. 2004