quarta-feira, 19 de julho de 2017

Sou mais forte não comendo - anorexia masculina

Estudos sobre imagem corporal e transtornos alimentares sempre focaram mais em mulheres do que homens, mas homens também podem sofrer com estes assuntos. Entre 5% e 10% das pessoas que sofrem de anorexia e/ou bulimia são homens, mas estudos recentes acreditam que o número pode ser bem maior. Isso porque é comum haverem diferenças entre a anorexia masculina e os critérios geralmente usados para diagnosticar a doença. Além disso, tratamentos usados com mulheres anoréxicas não são tão eficazes com homens anoréxicos (Drummond, 2002).

Homens parecem ter a propensão em ver o próprio corpo como uma espécie de máquina, isso faz com que sua satisfação corporal esteja mais relacionada com o que um homem consegue fazer do que com sua aparência. Talvez, por essa razão, homens anoréxicos sentem uma espécie de orgulho em serem capazes de resistir a longos períodos sem comer (ou alguns tipos específicos de comida), se vendo, portanto, como mais forte que os outros (força de vontade). Outras características são: uma espécie de medo por sentir que possui gordura no corpo e por alimentos gordurosos; diferente das mulheres, homens evitam fazer dietas e emagrecem abusando de atividades físicas; e, quando em grupo, podem competir para ver quem é o mais doente. (Drummond, 2002, 2010)

Sinais de que um homem sofre de anorexia incluem: perda de peso muito rápida, subnutrição (baixo Índice de Massa Corporal - IMC), doenças envolvendo o aparelho reprodutor e fragilidade estrutural inexplicada. Pessoas que sofrem de transtornos psiquiátricos ou usam drogas são mais propensas a desenvolverem anorexia. (Skolnick, Schulman, Galindo, Mechanick, 2016). Se você sofre ou suspeita que algum conhecido sofra, é importante buscar ajuda especializada.
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Obra citada não disponível online
Drummond, M. (2010). Men's bodies throughout the life span. Em C. Blazina & D. S. Shen-Miller (eds.), An international psychology of men (pp. 159-188). New York: Routledge.

sábado, 8 de julho de 2017

Quantos psicólogos de homem você conhece?

Como toda criança, eu gostava de aprender. Aprender te dá um poder enorme, te permite mudar o ambiente a sua volta. Mas muito mais que poder, aprender te faz perceber que nada é por acaso, as coisas têm um motivo para serem como são, que tudo está conectado e que sempre há algo mais para aprender. Como diz a lore da carta Omniscience Dragon, Managarmr: "É porque eu tudo sei que quero saber ainda mais".

Desde muito cedo, desejo ser um cientista. Não tinha me imaginado um cientista psicológico antes da faculdade, mas sempre um cientista. Perceber que tudo possui uma lógica, mesmo quando parece acidental ou prejudicial, me fez querer aprender mais pelo simples prazer de entender as coisas do que para mudá-las. Vejo pessoas que dizem estudar algo para mudar esse algo, mas isso para mim é inconcebível. Como posso querer mudar algo que eu ainda não entendo?

Por outro lado, como acredito acontecer com a maioria das pessoas, as diferenças entre homens e mulheres sempre me despertou curiosidade. As diferenças entre os sexos são difíceis de ignorar. Mesmo pessoas que não estão de acordo com o imaginário social de como deve ser um homem ou uma mulher, geralmente, são mais parecidos com o próprio sexo do que com o oposto, o que, como consequência, faz com que prefiramos a companhia de nosso próprio sexo ao do outro, o que não significa de forma alguma rejeitarmos ou odiarmos o outro sexo.

Mas só comecei a pensar realmente em estudar tais diferenças quando, em 2013, descobri que, nas bibliotecas, há uma parte dedicada apenas para estudos sobre homens e outra só para as mulheres e, enquanto os livros sobre mulheres geralmente ocupam uma prateleira inteira ou mais, os livros sobre homens mal chegam nos dois dígitos.

Lendo os livros que encontrava, não apenas me conheci melhor, mas entendi que há razões para homens e mulheres serem diferentes que vão além da questão testosterona x estrogênio e mudei minha opinião sobre muitos assuntos, como a falsa crença de que mulheres são mais atenciosas com crianças que homens. Passei a prestar mais atenção nos outros, procurar grupos que discutem sobre a condição dos homens e procurar pesquisadores e estudos que consideram as diferenças de gênero.

Hoje, fazem quase quatro anos que iniciei minha jornada, que li, observei homens nas ruas, participei de grupos. me formei, mas continuo buscando aperfeiçoamento, tanto que me tornei revisor da revista científica Psychology of men and masculinity.

Porém, infelizmente, a Psicologia brasileira ainda está muito atrasada no atendimento especializado a homens e o único espaço em que homens parecem ter para serem ouvidos são as rodas de amigos íntimos e a internet. Eles não têm meios de conhecer pessoas novas com experiências semelhantes, não têm espaços para trocar ideias, nem profissionais especializados em escutá-los e entender suas reais necessidades.

Pensando nessa falta de profissionais dedicados a levar atendimento de qualidade a homens, pensei em seguir esse mesmo rumo. Sei que haverá muitas dificuldades, que não há profissionais no Brasil que possam me orientar, mas mesmo formado, não parei de buscar informações, de me atualizar e, com tempo e experiência, sei que ser um dos pioneiros nessa área será muito recompensadora para mim, para os homens e para seus entes queridos.

É por essa razão que criei esse blog e peço que comentem com suas opiniões e experiências e, quem gostar, que acompanhe meu trabalho, cadastrando-se.

a falácia do "machismo" - por que nem tudo pode ser culpa do homem

Ser homem não é um mar de rosas como algumas pessoas parecem acreditar. Embora possa ser verdade que homens tenham "privilégios" em algumas áreas, estão em sérias desvantagens em muitas outras, como expus aqui. Durante alguns anos, isso foi um problema para o Feminismo, até que fizeram uma incrível descoberta: O machismo também é prejudicial aos homens e é ele o culpado por todos os problemas que expus.

Entretanto, não posso aceitar que o machismo seja prejudicial aos homens e responsável pelos situações em que parece que o sexo "privilegiado" é o feminino. Antes que me critiquem e xinguem, peço que leiam todos os meus argumentos (e, se não concordarem, refutem meus argumentos, não meu sexo, idade, experiências pessoais ou outra coisa irrelevante).

Robert Cialdini (2006) fala de um estudo em que foi analisado a resposta das pessoas a um pedido para furar a fila para usar uma copiadora (xerox). No primeiro teste, o furador de filas perguntou a quem estava a sua frente "Desculpa, tenho cinco páginas. Posso usar a máquina de xerox?" e 60% das pessoas o deixaram passar na frente. Quando repetiram o experimento, mudando a pergunta para "Desculpa, tenho cinco páginas. Posso usar a máquina de xerox porque tenho que fazer cópias", 93% das pessoas o deixaram passar na frente.

Esse aumento não faz sentido já que, supostamente, todos os que já estavam na fila queriam tirar cópias, mas elas deixaram apenas porque ele deu uma justificativa. Nós, humanos, gostamos de explicações, mesmo que elas não façam sentido, e somos mais propensos a aceitar aquilo que nos é explicado. Na minha opinião, é isso que acontece com a resposta "é culpa do machismo", pelos seguintes motivos:

 1) O que é machismo? Originalmente, era usado em países de língua espanhola e portuguesa para se referir a um ideal que todo homem deveria buscar, ser um homem corajoso, forte, protetor, provedor, inteligente e com capacidade de liderança. Hoje, é frequente ouvirmos que "machismo é a crença de que homens são superiores às mulheres" e há quem parece chamar qualquer observação sobre diferenças de gênero de machismo (especialmente, seguidores de Judith Butler). Se nem mesmo o movimento feminista possui uma definição clara sobre o significado dessa palavra e, se eu não consigo explicar um termo, como posso acusá-lo de ser causa de algo? Etimologicamente, machismo significa "ideologia masculina; forma de pensar do homem" (macho+ismo). Logo, ao dizer que o machismo é ruim e precisa ser combatido, eu estou defendendo que existe um jeito de pensar masculino e outro feminino, que um é certo e o outro errado. Isso não é equidade, é discriminação. E antes que digam que "machismo é usado para dar visibilidade à opressão contra a mulher", por que não chamamos o racismo de "europismo", ou a homofobia de "heterossexismo"?

2) Como acontece com a maioria dos -ismos (e, agora, com as -fobias), machismo é apenas um nome dado para um conjunto de comportamentos e crenças, logo não pode ser causa de si mesmo. Dizer que alguém foi discriminado porque existe discriminação é, no mínimo, redundante. Há duas semanas, saiu uma reportagem de um homem, Alfredo Tucumán, que morreu agredido pela esposa (leia assassinado e vítima de violência doméstica/conjugal/na intimidade). Ele chegou a avisar a polícia, que fez pouco caso, e teve quem acusou o machismo de ser o responsável. Mas como dizer que "a crença de que homens são mais fortes que mulheres e, portanto, não podem apanhar delas" pode ser causa de os policiais acharem que um homem deveria ser capaz de se defender de uma mulher?
3) Se o machismo privilegia o homem e oprime a mulher, a situação do homem deveria ser sempre melhor que da mulher. No mesmo caso do homem assassinado pela esposa, se o machismo fosse tão tendencioso a sempre dar razão para o homem, a palavra dele deveria ser suficiente para encarcerar a mulher e não o foi. Connell (2005) "resolve" o problema de como o "privilégio pode ser prejudicial" dizendo que os problemas masculinos são o preço que homens tiveram que pagar por serem privilegiados. Entretanto, desde quando privilégios têm lados negativos? Qual foi o preço que os europeus pagaram quando escravizaram os africanos? Os nazistas eram mais de 90% da população carcerária quando perseguiam os judeus? Além disso, esse argumento não é aplicável à "opressão às mulheres"? Eu poderia perfeitamente dizer que a dependência econômica das mulheres, no passado, era o preço que elas deveriam pagar pelo privilégio de serem sustentadas financeiramente.

4) Apenas para enfatizar algo que já disse, mas pode ter passado batido por não estar em foco, todos os -ismos e -fobias tendem a ter um mesmo problema: por serem apenas nomes, nenhum deles aumenta minha compreensão do fenômeno, logo não me permitem pensar em intervenções eficientes. Troque "machismo" por "homofobia", "racismo" ou "capitalismo" e o sentido da frase não muda, só muda o nome do grupo que eu estou responsabilizando.
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Obras citadas

Cialdini, R. (2006). Influence: the psychology of persuasion (revised ed.). [S.l.]: Harper Business.
Connell, R. W. (2005). Masculinities (2nd ed.). Los Angeles: University of California Press