sábado, 24 de março de 2018

Obrigando pais a serem ausentes - Alienação parental


A Alienação Parental consiste em um adulto responsável por uma criança ou adolescente que tenta impedir ou "envenenar" o relacionamento entre essa criança/adolescente e o pai, mãe ou avós, e, geralmente, ocorre quando o pai e a mãe da criança/adolescente estão separados ou em processo de separação. Apesar disso, é possível ocorrer mesmo com o pai e a mãe juntos. Comumente, o alienador é a mãe e o alienado é o pai, mas pode ocorrer o inverso ou que uma das partes seja composta pelos avós ou outros familiares.

De acordo com a Lei nº 12.318/10, são critérios para a existência da Alienação Parental:
  1. Existência de campanhas de desqualificação da conduta do genitor [alienado] no exercício da paternidade ou maternidade
  2. Dificultar o exercício da autoridade parental
  3. Dificultar o contato da criança/adolescente com genitor [alienado]
  4. Dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar [impedir as "visitas"].
  5. Omitir, intencionalmente, informações pessoais relevantes sobre a criança/adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço
  6. Fazer falsas denúncias contra o genitor [alienado], ou contra familiares dele, para impedir ou dificultar a convivência dele com a criança/adolescente
  7. Mudar de residência, para local distante, apenas para dificultar ou impedir a convivência do genitor [alienado] ou de familiares dele.
Vários fatores culturais contribuem com a alienação contra os pais (mas não contra as mães) como a tendência a processos de disputa de guarda terem preferência pela guarda unilateral materna; textos "científicos" de que apenas a mãe basta, mas o pai não faz falta; estigmatizações pela linguagem (dizer que um pai atencioso é um "pai-mãe" ou "pãe"); crenças de que não é normal um homem querer se envolver nos cuidados infantis, dentre possíveis outros.

A Alienação Parental não deve ser confundida com a Síndrome da Alienação Parental, que consiste em sintomas físicos e psicológicos na criança/adolescente, decorrentes da Alienação Parental, e que ainda são controversos para muitos profissionais, mas costuma-se considerar sintomas da Síndrome da Alienação Parental: isolamento social, culpa injustificada, confusão mental, desatenção, queda de desempenho escolar e racionalizações fracas.

Embora eu tenha encontrado pesquisadores que alegam não existir Síndrome de Alienação Parental (e relatos na internet de que não existe nem Alienação Parental), fato é que algumas pessoas tentam usar os filhos(as) para punirem seus ex-companheiros e/ou familiares, como ocorreu com o Atercino, como eu disse no post passado. O fato de ainda não compreendermos muito bem suas consequências e como funcionam, não deve ser usado como desculpa para subestimarmos as consequências psicológicas de tais atos.

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Sugestão de documentário: Apagando o papai. Direção: Sandra Fernández Ferreira e Ginger Gentile. Argentina: INCAA e San Telmo Producciones, 2014. (1h 18min). Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=VLXEdcH4NIg>.

Fontes:

Fermann,I. L., Chambart, D. I., Foschiera, L. N., Bordini, T. C. P. M., &Habigzang, L. F. (2017). Perícias Psicológicas em Processos Judiciais Envolvendo Suspeita de Alienação Parental. Psicologia: Ciência e Profissão37(1), 35-47.

Jesus,J. A. de, & Cotta, M. G. L. (2016). Alienação parental e relações escolares: a atuação do psicólogo. Psicologia Escolar e Educacional20(2), 285-290.

Lei 12.318, de 26 de Agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o artigo 236 da Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990.

Zander,J. (2012). Parental alienation as an outcome of paternal discrimination. New male studies, 1(2), pp. 49-62. 

sábado, 10 de março de 2018

O homem é sempre culpado, mesmo quando se prova sua inocência

Our comfortable injustice, Part 1: Christians, race and ...



No dia primeiro de março de 2018, Atercino Ferreira de Lima foi solto após passar 11 meses preso, acusado de ter abusado sexualmente dos filhos. Porém, a denúncia mostrou-se falsa.

Após se separar da ex-companheira em 2002, ele foi acusado e passou 15 anos tentando provar sua inocência, até finalmente ser condenado a 27 anos de cadeia em 2017. O que chama a atenção é que uma psicóloga forense atendeu as crianças e fez um laudo indicando que elas não sofriam nenhum abuso do pai, mas sim da mãe. Apesar disso, as crianças ficaram sob a guarda da mãe, que lhes agredia para que elas testemunhassem contra o pai.

As crianças fugiram de casa e foram morar em orfanatos. Depois de crescerem, eles foram morar com o pai e registraram em cartório que nunca foram abusados pelo pai, mas as declarações foram arquivadas porque o processo estava nas mãos de instâncias superiores. Apenas quando o Innocence Project interviu, que o caso se desenrolou a favor de Atercino e seus filhos.

Apesar de todo o estresse e sofrimento, Atercino não tem intenção de acionar a ex-companheira judicialmente. Embora faça sentido que ele queira o fim desse pesadelo, ele foi acusado de um grave crime, o de abusar sexualmente de uma criança de 8 anos e outra de 6, sendo que seu acusador sabia que o crime nunca ocorrera.

A não-punição da ex-companheira (cujo nome não consigo encontrar) e o silêncio da sociedade e da grande mídia sobre esse caso, incentiva que casos semelhantes ocorram. É impossível saber ao certo a quantidade de falsas acusações, principalmente as falsas acusações de abuso sexual e menos ainda quando envolvem o abuso de crianças. As estatísticas variam de 6% a 80% dependendo do método usado.

Essa variação pode ser decorrente de casos considerados inconclusivos, dificuldade de identificar se a falsa denúncia foi feita conscientemente com o fim de prejudicar o acusado (ou outra pessoa) ou resultado do erro de algum profissional. O que parece ser certeza é que quase sempre a mãe faz a falsa denúncia contra o pai e, nos casos em que ela sabia que não houve crime, a motivação foi simplesmente querer fazer o ex-companheiro sofrer.

Esses casos são típicos do que está sendo chamado de alienação parental e que abordarei melhor na próxima publicação. Por isso, inscreva-se para receber a continuação diretamente no seu e-mail.

Fontes:
http://www.apase.org.br/93002-deliasusana.htm

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/justica-de-sp-manda-soltar-homem-que-foi-condenado-injustamente-por-abusar-sexualmente-dos-filhos.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=share-bar-desktop&utm_campaign=share-bar

https://portal6.com.br/2018/03/03/homem-acusado-injustamente-de-abusar-dos-filhos-e-solto-pela-justica/

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Melhorando de vida ao reconhecer os pensamentos automáticos

Eu sempre falo aqui no blog sobre a realidade masculina. Hoje, farei um pouco diferente, pois não adianta falar quais os males dos homens e não oferecer nenhuma solução e começarei pelos pensamentos automáticos.

O que são os pensamentos automáticos? Bem, o mundo está em constante mudança e muitas vezes não temos tempo de pensar no que fazer. Por essa razão, nossa mente é dotada da capacidade de pensar sozinha, muitas vezes tão rápido, que nem percebemos que pensamos. Esses são os pensamentos automáticos. Como todo pensamento, o pensamento automático é necessário para nossa sobrevivência e pode estar certo ou errado, mas por ser tão rápido, muitas vezes assume a forma de crença fanática e acaba nos autossabotando.

Por essa razão, é importante tentarmos perceber quando estamos diante de um pensamento automático e testarmos até que ponto ele é verdadeiro. O melhor é que qualquer um pode fazer isso: homem ou mulher, jovem ou idoso, psicólogo ou leigo. Veja quais desses pensamentos você tem com mais frequência e, depois, peça para seus conhecidos tentarem identificar os deles:

Filtro mental: É quando consideramos apenas os fatos que colaboram com nossa crença, mas ignoramos os fatos que contrariam nossa opinião. Um exemplo é a crença de que as mães são sempre melhores que os pais porque "sabem trocar fralda".

O que fazer quando pensamentos do tipo "filtro mental" estiverem atrapalhando sua vida?: Pergunte-se o que você pode estar ignorando. No exemplo acima, poderíamos perguntar "quantas vezes cada genitor já trocou as fraldas?" ou "só porque a mãe sabe trocar fraldas melhor que o pai, quer dizer que ela é melhor em tudo?"

Generalização: É quando usamos poucas situações para criar regras amplas e gerais. Um exemplo seriam as pessoas que, porque traem ou foram traídas uma vez, acreditam que as pessoas são incapazes de serem fiéis.

O que fazer quando pensamentos do tipo "generalização" estiverem atrapalhando sua vida?: Evite termos amplos e absolutos, como "tudo", "nada", "sempre", "nunca", "todos", "ninguém". Seja específico. No exemplo acima, pense "minha ex me traiu, mas que indícios tenho de que minha atual namorada também me trairá?" 

Personalização: É quando achamos que algo acontece por nossa causa, mesmo não tendo nenhuma relação. Esse tipo de pensamento é comum com filhos de genitores separados, que se sentem culpados pelo divórcio.

O que fazer quando pensamentos do tipo "personalização" estiverem atrapalhando sua vida?: equilibre as responsabilidades. Pergunte-se até que ponto você é realmente responsável (responsável, não culpado) pelo que ocorreu. No exemplo acima, converse com as crianças o verdadeiro motivo pelo qual está se divorciando e em como isso afetará a vida de cada um.

Tudo ou nada: É quando dividimos as coisas em bom e mau, perfeito e defeituoso. É o grande mau dos perfeccionistas e um exemplo seria pensar "se eu não for rico, não mereço viver (ou ser amado ou...)"

O que fazer quando pensamentos do tipo "tudo ou nada" estiverem atrapalhando sua vida?: Valorize os pontos do meio. A perfeição é inalcançável, qual o grau mínimo de satisfação? No exemplo acima, pense "enquanto eu não for rico, posso viver de forma satisfatória ganhando um mínimo de... (ou posso ser amado se eu apresentar as qualidades X ou o que conseguir pensar)".

Catastrofização: A maioria conhece esse pensamento automático como "pessimismo", é quando acreditamos que tudo dará errado e não existe a menor possibilidade de um "final feliz". Um exemplo comum são homens que cresceram sem pais e, por causa disso, acreditam que nunca serão bons pais, não importa o que aconteça.

O que fazer quando pensamentos do tipo "catastrofização" estiverem atrapalhando sua vida?: Considere todas as possibilidades. É certeza que pode dar errado, mas raramente esse é o único resultado possível. Tente pensar que outros resultados poderiam acontecer. No exemplo acima, poderíamos pensar "talvez você aprenda a ser um bom pai observando a mãe da criança, conversando com um pai que você considere exemplar. Talvez você tenha um bom instinto paterno e consiga aprender relativamente sozinho".

Leitura mental: É quando acreditamos que sabemos o que os outros estão pensando ou sentindo, que podemos prever como os outros irão agir. Esse é um problema comum com pessoas tímidas, que acreditam "saber" que os outros irão ridicularizá-lo se ele falar em público, se for visto dançando, etc.

O que fazer quando pensamentos do tipo "leitura mental" estiverem atrapalhando sua vida?: Infelizmente, não é possível ter certeza do que os outros pensam sem lhes perguntar. Tome coragem e pergunte aos outros o que eles fariam se vissem alguém fazer o que você pretende, diga o que pensa e aceite o risco de ser ridicularizado. Você se surpreenderá com o quão solidário as pessoas são. Se você se interessa por alguém, diga a essa pessoa o que sente, não se torture achando que será rejeitado só porque não tem coragem de se declarar.

Deixe nos comentários o que você achou dessas dicas, se elas foram úteis. Se tiver gostado, inscreva-se para receber as atualizações e espero poder vê-lo no workshop "Diferenças na comunicação masculina e feminina"

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Comentários sobre a entrevista de Jordan Peterson à Cathy Newman

Algumas pessoas já devem ter visto, mas imagino que muitas depararam-se com a barreira linguística. Para facilitar, comentarei, no canal do YouTube, sobre a entrevista que o Psicólogo Jordan Peterson deu à jornalista britânica Cathy Newman e as falácias presentes na reportagem, mas que estão impregnadas na sociedade.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Qual a diferença entre homens e mulheres? - parte 3

Tenho falado até agora das diferenças principais, que parecem ser o núcleo da masculinidade e feminilidade, mas há outras menos impactantes.

Uma delas é que homens tendem a formar grupos maiores que as mulheres, estabelecem hierarquias formais naturalmente e tendem a competir como uma forma de se aproximarem emocionalmente. As mulheres parecem preferir grupos menores, não estabelecem hierarquias (ou pelo menos, parecem não estabelecer e, quando estabelecem, elas são mais fluídas) e usam a cooperação como forma de aproximação emocional.

Uma teoria do porquê isso ocorre está relacionado aos níveis de testosterona no cérebro. Em geral, quanto mais testosterona, mais competitiva é uma pessoa e mais ela busca por status. Isso pode ser comprovado através das hienas, pois a fêmea possui mais testosterona que o macho e os comportamentos estereotipados de cada gênero é o oposto do esperado nos mamíferos.

Outro possível motivo é que essas características foram selecionadas ao longo da história evolutiva. Como as mulheres estavam constantemente engravidando, elas precisavam gastar muito tempo cuidando das crianças. Competir para ver quem cuida melhor de crianças não é tão eficiente quanto cooperar para que todas cuidem das crianças, além de ser mais fácil se forem formados grupos menores sem hierarquias (ninguém gosta de ter alguém gritando no seu ouvido como criar seu filho).

Por outro lado, os homens ficavam responsáveis pela produção material e competições são ótimas para incentivar as pessoas a criarem e produzirem coisas novas e em maior quantidade. Grupos maiores conseguem realizar tarefas que grupos pequenos não conseguem e a hierarquia (um manda e os outros obedecem) ajuda a evitar que o grupo gaste muito tempo em discussões em que há divergências.

Essas diferenças contribuem para que homens e mulheres vejam o mundo de forma diferente, se relacionem de forma diferente com o mundo e acabem se desentendendo. O que acha de diminuir esse desentendimento passando uma manhã comigo para discutirmos isso melhor?

Fontes:
Baumeister, R. (2010). Is there anything good about men?: How cultures flourished by exploiting men. New York: Oxford University Press

Farrell, W. (2014). The myth of male power: why men are the disposable sex (Ebook Kindle). Original de 1993

Gilmore, D. D. (1990). Manhood in the making: cultural concepts of masculinity. New Haven, NY: Yale University Press

Kiselica, M. S. (2010). Promoting positive masculine while addressing gender role conflict: a balanced theoretical approach to clinical work with boys and men. In: C. Blazina & D. S. Shen-Miller (Ed.). An international psychology of men (pp. 127-156). New York: Routledge


sábado, 20 de janeiro de 2018

Como entender homens e mulheres?

Olá, você já deve me conhecer.

Meu nome é Yago e, desde 2013, estudo como funciona a mente masculina, sendo um dos únicos no Brasil com esse foco. Claro que não é possível falar em “mente masculina” sem compararmos com a “mente feminina”. Talvez seja mais correto dizer que estudo as semelhanças e diferenças entre a mente do homem e da mulher.

Afinal, por que parece tão complicado entender o que querem as mulheres? E por que é tão difícil para os homens falarem? A comunicação entre homens e mulheres sempre foi complicada, mas é cada vez mais importante.

Por isso te convido para um encontro que acontecerá no espaço Hayanna, que fica localizado na rua Alzira, 56, Vila Alzira, Santo André, SP, no dia 24 de Março de 2018, um Sábado, às 10h.

Esta é uma rara oportunidade para conhecer novas formas de melhorar nosso relacionamento com aqueles que amamos e de aumentar nosso autoconhecimento.


As inscrições devem ser realizadas pelos telefones (11) 4426-2309 ou (11) 964-566-948.


domingo, 14 de janeiro de 2018

Nota de repúdio à matéria veiculada na Folha de São Paulo em 14/01/2018


No dia 14 de Janeiro de 2018, o jornal Folha de São Paulo publicou matéria escrita pelo colunista Reinaldo José Lopes, na qual ele utiliza de argumentos incompletos e superficiais para defender que "homem não presta", que "violência e estupidez são coisas de homem", disseminando o ódio contra os homens e reforçando o estereótipo da "masculinidade tóxica".

O autor justifica sua opinião alegando que há correlação entre ser homem e estar envolvido em casos de violência e de acidentes, mas o mesmo acontece com outros grupos, como negros e pobres, mas defender que "negros não prestam" ou que "violência é coisa de pobre" jamais seria admitido.

Embora seja verdade que a maioria dos casos de agressão tenha os homens como perpetradores e muitos acidentes evitáveis tenham os homens como as principais vítimas, o colunista não menciona que homens são mais propensos a arriscar a vida para proteger os outros, sendo maioria dos policiais, bombeiros e qualquer outra profissão perigosa, além de estudos comparando a violência sofrida e perpetrada por cada sexo, e isentos da narrativa feminista homem-agressor/mulher-vítima, demonstram haver simetria tanto na agressão quanto na vitimização, mudando apenas a modalidade. Assim, enquanto homens são mais propensos a agredirem de formas facilmente perceptíveis, como a violência física e sexual, as mulheres são mais propensas a praticarem atos de violência mais difíceis de serem reconhecidos, como a violência psicológica, o mau-trato infantil, envenenamento e pedir que outra pessoa cometa a violência por ela. (exemplos podem ser encontrados nos livros de Warren Farrell, nos escritos de Murray Straus, Simone Alvim e outros).

Se invertêssemos os papéis e tivéssemos um artigo dizendo que "mulheres não prestam" ou que usasse o fato de a maioria quase absoluta de alienadores parentais e pensões ter a mulher como beneficiária para dizer que "manipulação e extorsão são coisa de mulher", esse artigo seria facilmente considerado discurso de ódio contra a mulher e todos os meios de comunicação do país estariam exigindo a retratação e punição dos envolvidos. Sendo assim, repudiamos as declarações ofensivas publicadas no jornal e exigimos a imediata retratação dos envolvidos.

Reconhecemos que não se trata de homens não serem maioria dos envolvidos em atos de violência ou não fazerem coisas "estúpidas". Mas entendemos que o combate à discriminação de gênero, presentes no artigo 5º da Constituição Federal de 88 e no artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, vai além de combater a violência contra a mulher. Somos contra a tentativa cada vez mais comum de transformar o sexo/gênero masculino em um inimigo, de fomentar o ódio através da segregação da sociedade em mocinhos e vilões e exigimos que os homens sejam reconhecidos como seres humanos, seres imperfeitos com qualidades e defeitos.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Diferenças entre homens e mulheres - parte 2


Terminamos 2017 falando sobre a teoria E-S e diferenças de motivação entre os sexos e retomaremos em 2018 continuando daí.

Falei da teoria E-S porque, juntando tudo que sei sobre a masculinidade e a feminilidade, parece que o "coração" das diferenças de gênero consiste numa tendência inata de homens prestarem mais atenção em coisas mecânicas e pragmáticas, enquanto a atenção feminina tende a focar em pessoas e relacionamentos.

Chamo de tendência porque, como tudo no estudo de seres vivos, essa regra não é absoluta. Há pessoas que, por razões desconhecidas, parecem ter a preferência invertida. Essas pessoas tendem a se comportar e fazer escolhas consideradas estranhas para o seu próprio sexo, mas, ao contrário do que possamos pensar, não significa necessariamente que sejam homossexuais.

Isso pode ser observado já no primeiro dia de vida. Coloque o/a bebê deitada e, de um lado, coloque uma boneca ou algo que lembre um rosto humano. Do outro lado, coloque algo que não lembre um humano, como um carrinho. Agora, cronometre quanto tempo o/a bebê fica olhando para cada objeto. Quase sempre, o menino passará mais tempo olhando para o carrinho que para a boneca, e o contrário ocorrerá com a menina. Essa diferença é estatisticamente significativa.

Há quem defenda que a diferença seja ensinada, mas isso parece improvável se considerarmos que ela já está presente muito antes do/a bebê aprender que as pessoas são diferenciadas em dois sexos ou do adulto ter tempo de ensinar a criança o que é "coisa de menino" e o que é "coisa de menina". Além disso, se você repetir esse experimento com alguns animais, principalmente outros primatas, você terá praticamente o mesmo resultado, reforçando a hipótese de que essa tendência não é aprendida.

A ideia de que todas as diferenças são resultantes apenas da criação é tentadora, pois queremos acreditar que podemos controlar quem nossos filhos e filhas serão. Que as crianças não passam de tábulas rasas esperando que lhes programemos para ser de um jeito ou de outro, mas, precisamos aceitar que só podemos influenciar os outros até certo ponto. Podemos não perceber ou não querer acreditar, mas os bebês já nascem com vontade própria, já tem uma opinião sobre o que gostam e o que não gostam e, como toda opinião, ela pode ser alterada, mas não há garantias.

Para saber mais, inscreva-se para ser notificado de novas postagens, leia meu ebook ou compareça no meu workshop.


Fontes:

Baumeister, R. (2010). Is there anything good about men?: how cultures flourished by exploiting men. New York: Oxford University Press.
Menezes, A. B. de C., & Brito, R. C. S. (2013). Diferenças de gênero na preferência de pares e brincadeiras de crianças. Psicologia: reflexão e crítica, 26(1), 193-201. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722013000100021&lng=en&nrm=iso>.
Menezes, A. B. de C., Brito, R. C. S., Figueira, R. A., Bentes, T. F., Monteiro, E. F., & Santos, M. C. (2010). Compreendendo as diferenças de gênero a partir de interações livres no contexto escolar. Estudos de Psicologia (Natal)15(1), 79-87. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/epsic/v15n1/11.pdf>.
Menezes, A. B., Brito, R. C. S., & Henriques, A. L. (2010). Relação entre gênero e orientação sexual a partir da perspectiva evolucionista. Psic.: teor. e pesq., 26(2), p. 245-252. Doi: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000200006

Primeiro episódio de “Hjernevask” (Levagem cerebral). Criação: Harald Eia e Ole-Martin Ihle. Noruega: NRK1, 2010. (38min 51s). Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=sIgH7Hlsbag>.
Documentário "Science of men" (Ciência de homens). Criação: Anna Fitch. Estados Unidos: National Geographic, 2008