Se você já procurou alguma coisa sobre desenvolvimento infantil, você provavelmente sabe da importância da mãe para que uma criança seja saudável. Entretanto, não deve ter visto nada sobre o pai. A Psicologia do Desenvolvimento Infantil tem contribuído para afastar o homem do convívio familiar, dizendo que o homem é incapaz de cuidar dos próprios filhos/as, e atribuindo à mulher toda a responsabilidade pela saúde da criança. Uma Psicologia que reduz o relacionamento pai-mãe-criança a uma "tríade de dois" (S. SILVA, 2004, p. 37), e que é
"Alienante e culpabilizante para as mulheres, o mito do instinto materno se revela devastador para as crianças, em particular para os meninos. Esta teoria postula que a mãe é a única capaz de cuidar do recém-nascido e da criança porque fica determinada biologicamente para isso. O par mãe/criança formaria uma unidade ideal que ninguém pode nem deve perturbar. Legitima-se a exclusão do pai, com isto reforça-se a simbiose mãe/filho. (p. 43-44)."
Quando a Psicologia fala da importância do pai, fala-se que, após uma certa idade, ele deve romper a simbiose mãe-bebê, simbiose que os próprios psicólogos alimentaram e o advertiram para proteger, pois rompê-la seria danoso à criança. Eu mesmo, quando preciso procurar fontes científicas sobre paternidade, tenho dificuldade de encontrar artigos bons e preciso recorrer a revistas de enfermagem, que fazem análises psicológicas muito melhores que trabalhos feitos por psicólogos.
Voltemos aos fatos, o pai só começa a ser tratado como importante a partir de 1976, quando Michael E. Lamb publica o livro The role of the father in child development (O papel do pai no desenvolvimento infantil). Porém estudos mais consistentes, explorando a qualidade da relação pai-criança só começaram a surgir na década de 90 (GOETZ; VIEIRA, 2013) e, no Brasil, a comunidade científica só começa a estudar com afinco após o ano de 2004, aproximadamente (OLIVEIRA; R. SILVA, 2011; VIEIRA et al., 2014).
O que precisamos ter em mente ao falar da paternidade? Tornar-se pai acarreta em mudanças na autoimagem, nas relações sociais e nos hábitos de saúde (MORAES et al., 2016), conta com mudanças hormonais para auxiliar na paternagem (NUNES-COSTA et al., 2014), muda em função da personalidade paterna, personalidade da criança, sexo da criança, qualidade da relação conjugal, nível de escolaridade, trabalho, motivação, autoconfiança, suporte social e idade, tanto do pai quanto da criança (LAMB, 1997).
Costumamos reclamar que homens ainda não dividem os cuidados em igualdade com as mulheres. Mas como conseguiremos dividir o tempo em duas metades perfeitamente iguais se, nos casos de divórcio, damos a guarda, quase sempre, só pra mãe (IBGE, 2014) e a duração máxima da licença-paternidade é de 20 dias (nos casos de empresa cidadã) e a duração mínima da licença-maternidade é de 120 dias (ou seja, a licença-maternidade é de 6 a 36 vezes maior que a licença-paternidade)?
Outra questão: por que o pai precisa cuidar da criança nas mesmas áreas em que a mulher é boa? A divisão de tarefas é ruim quando extremamente rígida, impedindo as pessoas de realizarem seus potenciais e de serem felizes, mas a divisão em si não é nem boa, nem má. Tomemos, por exemplo, o estudo de Goetz e Vieira (2013), que perguntou a crianças de 10 e 11 anos sobre como deveria ser um pai e uma mãe ideais e como eram seus pais e mães.
No geral, mulheres se saíram melhores que homens, não havendo grandes diferenças entre a mãe ideal e a mãe real, mas ainda aquém do desejado. Entretanto, as crianças disseram que um pai e/ou uma mãe ideal deveria brincar, em média, pouco mais de quatro vezes por semana com eles e as mães não chegam a brincar nem duas vezes, enquanto os pais brincam de três a quatro vezes por semana.
Esses resultados colaboram com os diversos estudos que apontam que homens brincam mais e tendem a construir o vínculo pai-bebê baseado no lúdico. Muitas pessoas desvalorizam essa atitude, achando que, ao fazer isso, o pai está se reduzindo a um mero recreador, mas brincar é de fundamental importância para a saúde mental e desenvolvimento cognitivo da criança. Qualquer bom professor ou terapeuta brincará com a criança para que ela aprenda e fique bem, por que não deixar o pai fazer o mesmo?
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Obras citadas não disponíveis on-line
GOETZ, E. R; VIEIRA, M.
L. Pai real, pai ideal: o papel
paterno no desenvolvimento infantil. 3ª ed. reimpr. Curitiba: Juruá, 2013.
LAMB, M. E. The role of the father in child development. New York: John Wiley & Sons, 1997.
MORAES, Y. L. de; ARGENTA, K. S. M.; REZENDE, M. M. A experiência da paternidade de pais de bebês: um estudo descritivo-exploratório. 2016. 278p. Relatório de iniciação científica (Iniciação Científica com bolsa UMESP na graduação em Psicologia) - Escola de ciências médicas e da saúde, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP. 2016.
SILVA, S. M. da. Exercícios da paternidade: estudo de
dois casos clínicos. 2004. 162 p. Dissertação (pós-graduação em Psicologia da
Saúde) – Faculdade de Saúde, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo
do Campo, SP. 2004
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