sábado, 28 de outubro de 2017

Violência contra o homem

Hoje em dia, é aceito por psicólogos(as) que negros e pobres cometem mais crimes por serem "minorias", por serem "socialmente marginalizados", e que o vandalismo ou crimes cometidos por adolescentes sejam um pedido de ajuda, um sintoma geralmente desencadeado por situações de vulnerabilidade. Entretanto, quando consideramos que a maioria dos crimes e atos violentos são cometidos por homens, tendemos a ter duas reações: dizer que isso é esperado, pois homens são mais violentos, ou dizer que isso é resultado da cultura machista, que educa homens para serem dominantes e usam da violência para demonstrar seu poder. (Farrel, 1993/2014)
Você aceitaria se disséssemos que a maioria dos crimes são cometidos por negros, pobres e adolescentes porque isso é apenas uma característica normal desses grupos ou que isso é uma demonstração de seu poder?

Por outro lado, o que acontece quando consideramos o contrário? Quando consideramos que homens são maioria das vítimas de violência (Mapa da Violência, 2015, 2016) e que também sofrem violência na intimidade (ou conjugal ou doméstica, ou como prefira chamar) (Zaleski, Pinsky, Laranjeira, Ramisetty-Mikler & Caetano, 2010). Acho lamentável quando pessoas, algumas vezes "especialistas em violência", dizem que essas situações são menos importantes porque são "homens batendo em outros homens" ou que "esses casos são minoria".

Se alguém te dissesse que uma mulher foi vítima de um crime e o crime não será levado a sério porque o autor do crime é outra mulher, você consideraria isso aceitável? O número de casos de morte de mulheres em episódios de violência doméstica não é nem 10% do número total de homicídios. Você aceitaria se esse fato fosse usado como justificativa para não haver mais estudos sobre violência doméstica, para acabar com todas as delegacias da mulher e ONGs que lutam contra a violência contra a mulher? Se a resposta é não para ambas as perguntas, você também não deve aceitar a violência contra o homem, independente do sexo do perpetrador ou da quantidade de vítimas.

Na verdade, vários autores defendem que a violência doméstica contra o homem é tão comum quanto a violência contra a mulher, mas existe um viés tão forte de pesquisadores e dos meios de divulgação em retratarem a mulher como vítima, que violência doméstica se tornou sinônimo de violência contra a mulher, decorrente de um desejo masculino de oprimir a mulher, quando, na verdade, é causada por problemas na dinâmica do casal, pela dificuldade de se colocar no lugar do outro, de negociar as diferenças, pela incompatibilidade de objetivos e pela ausência de uma cultura de responsabilidade mútua. (Alvim & Souza, 2005; Andrade, 2008; Farrell, 1991; 1993/2014; Oliveira & Souza, 2006; Strauss, 2007; Zaleski et al., 2010).

O único estudo brasileiro que encontrei que quantificou tanto as vezes que homens quanto as vezes que mulheres estiveram envolvidos em casos de violência por parceiro íntimo, tanto no papel de agressor quanto no vítima, foi o de Zaleski et al (2010), que, conforme pode ser observado no quadro abaixo, encontra valores próximos de perpetração e vitimização para os dois sexos.

Prevalência de violência por parceiros íntimos nos últimos 12 meses. Brasil, 2005-2006 (Zaleski et al., 2010, p. 57)
Variável
Masculino n=631
Feminino n=814
X²(df)
Qualquer tipo de violência íntima (incluindo mútua, somente perpetração e somente vitimização)
10,7%
14,6%
4,76(1)*

Perpetração
Vitimização
Perpetração
Vitimização

Atos leves





Jogar algo
2,2%
3,4%
6,0%
2,7%

Empurrar, agarrar ou sacudir
7,4%
4,1%
9,3%
6,3%

Tapa
3,2%
4,2%
6,0%
3,9%

Atos graves





Chutar ou morder
0,9%
1,4%
2,2%
1,2%

Bater com algo
1,6%
2,9%
5,5%
2,2%

Queimar
0,0%
0,1%
0,0%
0,1%

Sexo forçado
0,8%
0,3%
0,6%
1,2%

Ameaçar com faca
0,4%
1,5%
1,2%
0,9%

Usar faca/arma de fogo
0,2%
0,9%
0,2%
0,3%

Tipo de violência





Mútuo
5,3%
6,3%

Somente perpetração
3,9%
5,7%

Somente vitimização
1,5%
2,6%

Sem violência
89,3%
85,4%

* p <0,05.

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Obra citada não disponível online
Farrell, W. (1991). Por que os homens são como são (trad. Paulo Froes). Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos.

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