sábado, 14 de outubro de 2017

A agressividade é uma característica masculina? - quando o homem também é abusado

A violência costuma ser vista como uma característica masculina (Farrell, 1993/2014; Moore & Gillette, 1993; Nolasco, 2001), a ponto de ter surgido a ideia de que “todas as guerras foram criadas por varões”, entretanto, Farrell (1991) diz-nos que homens lutarem nas guerras não os tornam mais culpados pela criação das guerras que o papel feminino em educar os filhos para serem soldados.
Contudo, os estudos sobre violência tendem a ser tratados como assexuados, isso é, como se o gênero não interferisse nada, apesar de homens serem a maioria dos agressores e dos agredidos, às vezes, quase 10x mais que mulheres (Farrell, 1991, 1993/2014; Nolasco, 2001; Mapa da Violência, 2015a, 2015b). O sexo/gênero só costuma ser levado em consideração nos estudos de violência na intimidade e agressão sexual, quase sempre numa dicotomia rígida, em que o homem é o agressor e a mulher a vítima, igualando violência na intimidade e agressão sexual com "violência do homem contra a mulher (Alvim & Souza, 2005; Andrade, 2008; Farrell, 1991, 1993/2014; Oliveira & Souza, 2006; Straus, 2007; Zaleski, Pinsky, Laranjeira, Ramisetty-Mikler & Caetano, 2010).
Ouvindo o relato do Marlon, sobre como ele foi abusado na infância, acredito que já tenha passado da hora em entrarmos nesse assunto: homens também podem ser vítimas de violência na intimidade e abuso sexual. Estudos indicam que a diferença entre vítimas masculinas e femininas nem é tão grande, a diferença é o número de denúncias. Assim, tais tipos de violência não se configurariam como "violências de gênero", causadas pelo desejo masculino de oprimir a mulher, até porque tais diferenças também ocorrem em relacionamentos homossexuais, mas seriam, antes de tudo, dificuldades em negociar diferenças (Alvim & Souza, 2005; Andrade, 2008; Farrell, 1993/2014; Oliveira & Souza, 2006).
Oficialmente, a maioria dos abusadores sexuais de homens são outros homens, o número de mulheres abusadoras pode ser muito maior, dado que muitas pessoas acreditam que ser abusado é o mesmo que ser penetrado a força ou por considerarem que homens têm "sorte" de terem relações heterossexuais tão precocemente.
No estudo de French, Tilghman e Malebranche (2014), com 282 jovens do sexo masculino, estudando no Ensino Médio ou Faculdade, encontrou que 120 deles (43%) sofreram, pelo menos, uma forma de coerção sexual: "pressão verbal" (31% da amostra), "sedução indesejada" (26%), "intercurso completado" (21%), "beijo/carícia" (18%), "força física" (9%), "uso de substâncias" (7%) e "tentativa de intercurso" (3%).
Segundo a revisão feita por Zimmermann (2012), mulheres abusadoras sexuais tendem a ser divididas em quatro categorias: 1) abusadoras intergeracionais: o tipo mais comum, tendem a abusar de crianças, precocemente, sendo mais comum que comece abusando da própria prole. É comum que esse tipo de mulher vem de uma filha em que abusos sexuais de crianças são comuns; 2) professora/amante: costuma ser uma mulher adulta que tem relações sexuais com um adolescente ou criança pré-púbere. É comum que as pessoas vejam esse tipo de relação como uma fantasia comum dos garotos e, portanto, inofensiva, uma forma de iniciação sexual. Entretanto, o interesse da mulher costuma ser mais a exploração de um desequilíbrio de poder (poder manipular o garoto) do que um interesse romântico/sexual; 3) mulheres coagidas pelo marido: são mulheres que, por causa de um companheiro, abusaram ou facilitaram que seu companheiro abusasse de uma criança. Apesar de terem iniciado o abuso por causa do companheiro, muitas continuam abusando mesmo sem a presença dele; 4) experimentadora-exploradora: fazem parte dessa categoria a maioria das adolescentes que abusam sexualmente de crianças. São garotas que desejam uma relação sexual e, não conseguindo ter uma experiência com um companheiro de sua idade, buscam essa experiência com crianças que podem dominar, geralmente um irmão mais novo ou uma criança da qual é babá.
Do outro lado do espectro, a revisão do mesmo autor identificou cinco tipos de pais abusadores: 1) sexualmente preocupados: têm um interesse sexual obsessivo pela prole, às vezes, desde o nascimento. É comum que tenham sido abusados sexualmente quando crianças; 2) regridem à adolescência: só se interessam pela prole quando ela entra na adolescência; 3) buscam autossatisfação: veem seus descendentes como meros instrumentos para obter autossatisfação; 4) emocionalmente dependentes: usam sua progênie para obterem relacionamentos amorosos que objetivam a proximidade, companhia e amizade; 5) vingativos raivosos: têm raiva do abusado, geralmente, por exigir muita atenção de sua companheira.

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Obras citadas não disponíveis online:


Farrell, W. (1991). Por que os homens são como são (trad. Paulo Froes). Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos.

Farrell, W. (1993/2014). The myth of male power: why men are the disposable sex. Dr. Warren Farrell, 1993/2014. Edição Ebook Kindle

Moore, R., & Gillette, D. (1993). Rei guerreiro mago amante. (Trad. Talita M. Rodrigues). Rio de Janeiro: Campus.


Nolasco, S. (2001). De Tarzan a Homer Simpson. Rio de Janeiro: Rocco.

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