sábado, 9 de dezembro de 2017

Quais as diferenças entre homens e mulheres - parte 1

Uma pergunta que assola a humanidade a milênios é "quais as diferenças (não-físicas) entre homens e mulheres"?

As primeiras teorias eram muito vagas, como a teoria Yin-Yang chinesa, ou resumiam-se em generalizações do que as pessoas percebiam baseadas em diferenças físicas e sociais, sem se preocupar em verificar se tais percepções eram são verdadeiras. Por exemplo, é dever do homem lutar para proteger as mulheres e crianças (ou pilhar os bens de que precisavam para sustentar suas famílias), e eles eram treinados desde a infância para serem guerreiros, logo, características relacionadas a combates deveriam ser masculinas.

Mas hoje pensamos "até que ponto essas diferenças foram criadas por nós mesmos"? O antropólogo David D. Gilmore, em sua obra prima Manhood in the Making, apresenta dados que parecem indicar que as diferenças são ativadas diante de ambientes hostis, decorrentes das limitações impostas a sexo para gerarmos descendentes. Quanto mais hostil o ambiente, mais forte a pressão para que cada sexo desempenhe tarefas específicas para sobreviver (o que ficou conhecido como machismo/patriarcado). Quanto menos hostil, mais livres as pessoas são para viverem como quiserem.

Entretanto, há algumas diferenças quase imperceptíveis que parecem se reproduzir independente do ambiente, às vezes, pouco depois do nascimento e que, embora não sejam exclusivas de um sexo, parece que há uma clara tendência para que cada sexo tenha uma característica específica.

As características mais estudadas são o melhor desempenho de homens em testes que envolvem habilidades espaciais (tirando memória espacial) enquanto mulheres têm melhores habilidades comunicativas. Baron-Cohen e seu trabalho com pessoas com Síndrome de Asperger foi, talvez, a primeira mudança para uma compreensão mais ampla. Ele criou a teoria E-S (Empathising-Systemising, algo como "empatização-sistemação"). Segundo essa teoria, podemos pensar o funcionamento do cérebro como dois eixos perpendiculares, sendo que um eixo representa nossa capacidade de identificar as emoções e pensamentos de uma pessoa e responder apropriadamente a eles, e o outro representa nossa capacidade de compreender como um sistema funciona e a criar novos sistemas. Algumas pessoas têm ambas as habilidades equilibradas, mas a maioria dos homens é significativamente melhor em compreender sistemas, enquanto a maioria das mulheres é melhor em compreender pessoas.

Outra teoria mais recente, e que acredito ser muito melhor e perfeitamente exemplificada no livro Is there anything good about men?, de Roy Baumeister, defende que homens e mulheres não possuem diferenças com relação às suas habilidades, mas com relação às suas motivações, o que afeta como suas habilidades são usadas. Dessa forma, não se trata de compreender melhor pessoas ou sistemas, mas de preferência por relacionamentos x preferência por funcionamento; empatia emocional x empatia de ação; que falarei com mais detalhes, no próximo artigo.

Referências

BARON-COHEN, S. The extreme male brain theory ofautism. TRENDS in cognitive sciences, [s. l.], v. 6, n. 6, p. 248-254, Junho 2002.
BAUMEISTER, R. F. Is there anything good about men?: How culture flourished by exploiting men. New York: Oxford University Press, 2010. 
GILMORE, D. D. Manhood in the making: cultural concepts of masculinity. New Haven, NY: Yale University Press, 1990.
KISELICA, M. S. Promoting Positive Masculinity While Addressing Gender Role Conflict: A Balanced Theoretical Approach to Clinical Work with Boys and Men. In: BLAZINA, C.; SHEN-MILLER, D. S. (Ed.). An international psychology of men. New York: Routledge, 2010. Cap. 5, p. 127-156.

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