sábado, 5 de agosto de 2017

Espelho, espelho meu, há alguém mais forte do que eu?

O ideal de corpo masculino tende a ser o de homem musculoso. Para crianças, um homem deve ter músculos para ser forte e rápido; para adolescentes, homens devem ser grandes, algo que ser musculoso ajuda muito; até gays e idosos idealizam o corpo masculino como sendo musculoso, com a diferença que homossexuais dão mais valor à questão estética enquanto idosos dão mais valor à independência e funcionamento do corpo. (Drummond, 2010)

Talvez por esse ideal, a maioria das pessoas que sofre de dismorfia muscular é homem. Também conhecida como "vigorexia", "complexo de Adônis" e "anorexia reversa", a dismorfia muscular consiste num transtorno mental
"[...] que ocorre quase exclusivamente no sexo masculino, consiste na preocupação com a ideia de que o próprio corpo é muito pequeno ou insuficientemente magro ou musculoso. Os indivíduos com essa forma de transtorno, na verdade, têm uma aparência corporal normal ou são ainda mais musculosos. Eles também podem ser preocupados com outras áreas do corpo, como a pele ou o cabelo. A maioria (mas não todos) faz dieta, exercícios e/ou levanta pesos excessivamente, às vezes causando danos ao corpo. Alguns usam esteroides anabolizantes perigosos e outras substâncias para tentar deixar seu corpo maior e mais musculoso." (DSM-V, p. 243)

Identificada em 1993, recebeu o nome de "anorexia reversa" por suas semelhanças com a anorexia, pois os comportamentos e crenças de dismórficos e anoréxicos tendem a ser os mesmos, mas de forma "invertida". O termo oficial mudou para "dismorfia muscular" em 1997, porque concluiu-se que a perturbação principal eram os exercícios físicos, sendo secundário as perturbações alimentares (Murray, Rieger, Touyz, & García, 2010). Assim, dismórficos acreditam serem muito pequenos e magros; evitam deixar partes do corpo à mostra por sentirem-se feios e inadequados; passam a se alimentar com mais frequência, geralmente em horários rígidos, e com mais proteína; praticam mais atividades físicas para fortalecer os músculos, como levantando peso, às vezes, de forma exagerada e sobrecarregando o corpo; além disso, ao contrário de anoréxicos e bulímicos que usam laxantes e inibidores de apetite, não é incomum dismórficos usarem esteroides anabolizantes e androgênicos (Behar & Aranciba, 2015)

De acordo com a revisão realizada por Tod, Edwards e Cranswick (2016), os sintomas costumam surgir no final da adolescência, começo da vida adulta (~20 anos), passam mais de três horas por dia pensando em serem mais musculosos, priorizam os exercícios e dietas a ponto de terem prejuízos no trabalho e nos relacionamentos, evitam ser vistos por preocupação com a própria imagem corporal.

Os comportamentos alimentares e de práticas de exercícios físicos tendem a obedecer padrões rígidos que se assemelham aos rituais do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Por outro lado, devido sua similaridade com a anorexia, inclusive na resposta aos tratamentos, há quem defenda que a dismorfia muscular deva ser considerada um transtorno alimentar e, como a pessoa se vê de forma diferente de como realmente é (geralmente, dismórficos são muito mais musculosos que a maioria das pessoas), pode ser considerado um Transtorno Dismórfico Corporal (quando considerados diferentes uns dos outros).

Outras polêmicas envolvendo a Dismorfia Muscular incluem o desconhecimento do quão comum ela é na população em geral e sua definição ser vaga, podendo incluir formas não patológicas de preocupação com a própria imagem e de ficar mais musculoso.

Para o DSM-V, os critérios diagnósticos para Dismorfia Muscular são:

  1. O indivíduo está preocupado com a ideia de que sua estrutura corporal é muito pequena ou insuficientemente musculosa. Isso vale mesmo que o indivíduo esteja preocupado com outras áreas do corpo, o que com frequência é o caso.
  2. Em algum momento durante o curso do transtorno, o indivíduo executou comportamentos repetitivos (p. ex., verificar-se no espelho, arrumar-se excessivamente, beliscar a pele, buscar tranquilização) ou atos mentais (p. ex., comparando sua aparência com a de outros) em resposta às preocupações com a aparência.
  3. A preocupação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
  4. A preocupação com a aparência não é mais bem explicada por preocupações com a gordura ou o peso corporal em um indivíduo cujos sintomas satisfazem os critérios diagnósticos para um transtorno alimentar.

Caso você ou algum conhecido apresentem as características listadas acima, é importante que procure um profissional de saúde mental para confirmar a suspeita e receber o tratamento adequado. Lembre-se de curtir, comentar, compartilhar essa postagem para divulgar esse importante conhecimento e inscreva-se no blog para receber as atualizações.

Obras citadas não disponíveis online
Drummond, M. (2010). Men's bodies throughout the life span. Em C. Blazina & D. S. Shen-Miller (Eds.), An international psychology of men (pp. 159-188). New York: Routledge.

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